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Silo de Grãos: Vale a pena construir?

By 16 de fevereiro de 2022Gestão de Armazéns

O Brasil que deu certo está no campo, sem sombra de dúvidas podemos dizer que somos excelência em vários segmentos no universo do Agronegócio, seja da porteira para dentro, seja da porteira para fora. E ter o próprio silo de grãos para uma logística de armazenamento correta, é fundamental para este sucesso financeiro.

Dados do IBGE publicados em 2021 estimam que o Brasil deve produzir na safra 2030/2031 o equivalente a 333 milhões de toneladas de grãos, um incremento aproximado de 27,1%, volume substancial, sem dúvida.  

Esse volume de grãos é fundamental para atender toda a demanda mundial, sendo o Brasil peça chave na segurança alimentar, com o incremento de renda principalmente nos países asiáticos a necessidade por grãos só cresce, e nosso país é campeão em vários segmentos, seja grãos ou proteínas animais, fornecendo alimento a preços competitivos para todos os continentes.  

Infraestrutura 

Claramente existe um descompasso entre a produção e a infraestrutura para receber, padronizar, armazenar e escoar esses grãos.  

No que tange estocagem, o Brasil possui regiões com sérios déficits de armazenagem de grãos e outras com uma capacidade suficiente, que garante uma tranquilidade maior para os produtores durante a colheita.  

Segundo Stelito Reis, superintendente de Armazenagem da Conab em alguns momentos e em algumas regiões como o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) o déficit chega a 71% da capacidade estática ou cerca de 12 milhões de toneladas de grãos no aguardo de armazenamento a cada safra.  

Ainda, segundo Stelito Reis, “a questão da deficiência de espaço de armazenagem no Brasil é uma situação atual. E a solução está na construção de mais unidades de armazenagem, agilização de fluxos, utilização de estruturas temporárias, como os silos bolsa, e planejamento logístico com informações regionalizadas”. 

Armazenagem no Brasil por Agente Armazenador 

Em maio de 2021 a Conab realizou um seminário intitulado Mitigar o Déficit de Armazenagem no Brasil, neste evento algumas simulações foram demonstradas como podem ver abaixo, neste primeiro gráfico podemos ver qual seria a necessidade de incremento de novos armazéns para receber o volume de grãos projetados.  

 

Para guardar 70% da produção estimada para 2026, teríamos que ter um incremento total de 56 milhões de toneladas na capacidade de armazenamento, o que corresponde a 11 milhões de toneladas por ano.  

Neste outro gráfico podemos ver a evolução da capacidade por agente armazenador, demonstrando claramente que o setor privado tem conduzido essa expansão para todo o país, com uma taxa média de crescimento de 2,7% ao ano, representando 65% da capacidade estática, frete a 23% das cooperativas, 11% das Trading e 2% das unidades públicas.  

 

Já a capacidade nível fazenda, apresentou uma taxa de crescimento de 2,67% de 2010 a 2020, representando em uma década um crescimento total de 34,2%.  

Apesar de todo esse crescimento temos um longo caminho a percorrer, enquanto países como Argentina, Canadá e Estados Unidos possuem patamares de armazenamento nível fazenda da ordem de 40%, 85% e 65% respectivamente, no Brasil esse percentual chega a 14%. 

Pontos a Avaliar Antes de Construir um Silo 

Os números demonstram claramente a necessidade de novos investimentos em estruturas de armazenamento, principalmente nível fazenda. Porém, antes de decidir por empreender na própria estrutura é importante que o produtor tenha em mente alguns pontos que são primordiais para a tomada de decisão, vejamos alguns:  

Volume de grãos produzidos e armazenados.  

Avaliar a quantidade grãos que preciso armazenar hoje e no futuro, com a produtividade crescente é necessário avaliar se a unidade armazenadora atenderá a produção da fazenda para os próximos anos.  Pensar apenas no hoje pode trará gargalos e dores de cabeça que podem ser evitadas com um planejamento mais acurado. 

Capacidade de armazenar a produção no silo de de grãos para comercializar na melhor época  

Entender a quantidade de grão que ficará estocada para buscar os melhores preços, evitando a pressão vendedora do mercado. 

Muito produtores possuem capacidade financeira de segurar o grão por grandes períodos, justamente buscando a melhor venda.  

Dimensionar essa capacidade evita que o produtor tenha que desfazer do grão no momento inoportuno, justamente por falta de espaço, Ex: Vendar a Soja para receber Milho Safrinha.  

Fluxo de movimentação de entrada e saída do grão do silo de grãos

Qual será o fluxo de movimentação do grão, em quantos dias por exemplo a Soja é colhida e destinada aos silos? 15, 20, 30, 45 dias?  

Imagine o melhor cenário possível de colheita e a partir desse ponto identifique quantos veículos deverão ser colhidos e enviados para o armazém e em qual prazo. 

É justamente nesse cenário que o armazém deve estar pronto para receber todo esse fluxo. Essas questões são importantes para definir a capacidade do fluxo de entrada, dimensionando os equipamentos e a infraestrutura da unidade.  

Caso o fluxo trave na entrada, a colheita é paralisada prejudicando todo processo. 

Percentual médio de grãos úmidos 

A umidade dos grãos vai demandar do fluxo de entrada, do silo pulmão e do secador, quanto mais úmido o grão, mais lento se torna o processo, portanto, saber a média de umidade dos grãos das últimas safras ajuda a dimensionar melhor a unidade. 

Benefícios Diretos e Indiretos para quem possui o próprio Silo de Grãos

Diretos 

– Redução do custo do frete 

Com o armazém dentro da propriedade é natural que o custo com frete será reduzido, pois as distâncias a percorrer serão menores, esse diferencial ficará no bolso do produtor, sendo um dos principais pontos de avaliação.  

Portanto, avalie qual tem sido o gasto com frete nas safras anteriores para ponderar esse número na hora a avaliar a viabilidade econômica de construir a unidade.  

– Diferença de valor Balcão x Disponível 

A maioria dos produtores utilizam unidades armazenadoras terceiras (cooperativas, tradings) para depositar seus grãos, ao depositar em uma empresa que comprou antecipadamente o grão ou irá comprar no futuro, o produtor receberá o que chamamos de preço Balcão.   

Já o preço disponível é aquele que o produtor recebe ao oferece um lote no mercado, por exemplo 50.000 sacas de soja.  

Pelo fato de o grão estar em armazém próprio o produtor consegue um diferencial de preço bem interessante frente ao valor praticado pelas cooperativas e tradings, esse diferencial em determinadas safras é bem substancial.  

Detalhe, geralmente, as cooperativas e tradings não cobram serviços de padronização e armazenagem, um dos motivos pelos quais os preços balcão são mais baixos.  

– Custos de recepção, secagem e armazenagem no silo de grãos terceirizados

Ao depositar seus grãos para um terceiro, o produtor opta por dois caminhos, ou entrega direto nas cooperativas ou tradings (preço balcão) ou utiliza armazéns gerais, que são especializados em prestar esse tipo de serviço, ou seja, cobram para recepcionar, padronizar e armazenar um grão que não é deles, deixando limpo e seco e disponível para que o produtor venda.  

Essa prestação de serviços é paga em R$ ou em Grão, dependendo do modelo de negócio da empresa. 

Ao construir o próprio silo de  armazenagem o produtor não terá que desembolsar esse valor para o armazém terceiro, mas, vale ressaltar que terá custos fixos e variáveis para operar o próprio silo armazenagem e uma gestão profissional se faz necessária para que os custos não sejam maiores do que seriam no armazém terceiro, claro. 

Indiretos 

– Disponibilidade da impureza 

Como sabemos toda carga proveniente da lavoura deve ser classificada, e dentre os itens de qualidade a impureza é um dos principais.  

Após a aplicação dos descontos nem toda impureza é descartada, parte dela (ex: casquinha, bandinha e vaginha de soja) são resíduos que podem ser utilizados posteriormente ou comercializados, gerando mais uma fonte de renda para o armazém.  

– Máquinas colhedeiras trabalhando mais horas por dia 

Sem concorrer com outros produtores o produtor que possui o próprio armazém consegue dinamizar a colheita fazendo com que os caminhões retornem mais rápido para a lavoura, evitando filas nas cooperativas ou tradings.  

Essa rapidez resulta em mais horas trabalhadas no campo, ou seja, acelera a colheita e ajuda a janela de outra safra, como a do milho inverno, por exemplo.  

– Possibilidade de antecipar a colheita 

Muitos produtores que estão entregando em armazéns terceiros, esperam a melhor umidade possível para que os descontos não sejam tão expressivos na entrada do grão, quando possuem o próprio armazém tem maior flexibilidade para colher com umidade um pouco mais alta, afinal o armazém é próprio e esse fato pode significar melhora na janela de um plantio, por exemplo (safrinha) 

Conclusão 

Buscamos com esse artigo apontar algumas questões que ajudem o produtor a pensar sobre a possibilidade de construir sua própria unidade armazenadora.  

O desafio de infraestrutura no Brasil é grande, pois nossa produção cresce a cada ano e não é acompanhada na mesma velocidade pelo aumento da capacidade estática.  

Construir o próprio silo requer um montante de investimento significativo que demanda  planejamento, gestão e recursos financeiros, os números demonstram que o investimento traz benefícios diretos e indiretos, cabendo ao produtor colocar na ponta do lápis todos prós e contras antes de decidir pelo empreendimento.  

Referências

Conab – Conab finaliza seminário do déficit de armazenagem apontando soluções 

Armazenagem: enquoanto capacidade no Brasil chega a 14%, nos EUA, índice é de 65% (canalrural.com.br) 

Conab finaliza seminário do déficit de armazenagem apontando soluções – YouTube 

João Ferreira

Diretor Comercial SIACON | Transformando via Software a Operação de Armazéns e Terminais de Grãos

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